Saúde mental: promover autocuidado e bem-estar

Ernesto Matalon
Por Ernesto Matalon

Na correria do dia a dia, criamos diversas desculpas para nós mesmos. Quantas vezes você já falou a frase: “não tenho tempo”? E, nisso, se afunda na rotina, deixa de se olhar, de se cuidar, não sai mais com os amigos e vive estressado e sem sentir prazer em viver.

Mas depende de você transformar essa realidade!

Sabendo que não é nada fácil mudar hábitos, conversamos com a psicóloga Raquel Soares, que explica tudo sobre saúde mental e dá dicas para promover autocuidado e bem-estar.

O que é saúde mental?
É um completo estado de bem-estar físico, mental e social. O bom estado mental possibilita uma vida plena e bem vivida. Costumo dizer que saúde mental é aquilo que traz paz e calma para o indivíduo, que gera equilíbrio e ajuda a tomar decisões de forma coerente e atenta.

É o fator que nos possibilita ajustar a vida de acordo com nossas emoções e momentos, mesmo os mais difíceis, e nos ajuda na qualidade da nossa interação com os outros e com a vida.

Como a saúde mental afeta a vida das pessoas?
A verdade é que: sem saúde mental, não é possível mais nada. Uma cabeça comprometida interfere diretamente na vida pessoal, no trabalho e nas relações interpessoais das pessoas.

Cuidar da mente é muito mais do que importante, é necessário! É a base que nos permite viver de forma plena. Na prática, quem é mais otimista e tranquilo, tolera melhor o estresse, as pressões e as frustrações. As pessoas com a saúde da mente em dia se tornam mais resistentes e menos propensos a doenças.

Por exemplo: quando nossa cabeça está em um problema que aconteceu ou em algo que pode acontecer, tudo parece não funcionar bem. As coisas dão errado, nos atrasamos, perdemos o ônibus, tomamos bronca do chefe no trabalho, nos estressamos.

Quanto mais estressados estamos, mais cortisol (hormônio responsável por potencializar os níveis de estresse e dificultar o relaxamento) é liberado na corrente sanguínea, fazendo nosso coração bater mais rápido e nosso corpo se preparar pra reagir a situações de perigo.

Quando estamos estressados, nossa memória é prejudicada, sentimos mais/menos sono do que o usual, comemos mais/menos do que o normal, nossa imunidade cai , temos dificuldade em pensar com clareza. O excesso de cortisol pode dar origem a quadros de doenças como diabetes, hipertensão arterial e depressão. O cortisol é também um dos responsáveis pelo acúmulo de gordura abdominal.

Como ter uma boa saúde mental?
Acredito que uma boa saúde começa com a tríade básica da existência humana: atividades físicas (ou seja, corpo em movimento), boa alimentação (inclui água, tá?) e boas relações (principalmente, consigo mesmo).

O equilíbrio emocional, o autoconhecimento e a prática de atividades prazerosas com frequência também fazem parte da “receita da mente saudável”. Aprender a lidar com o estresse e se conhecer, faz toda diferença na percepção de quando algo não está indo bem. Pode ser que alguma ajuda seja necessária, mas, em geral, somos capazes de nos regular com sabedoria.

A forma como você se trata e cuida da sua relação consigo mesmo faz toda a diferença. Bons níveis de autoestima, de autocuidado e relacionamentos saudáveis que você escolhe ter também fazem parte.

A pratica de atividade física não precisa ser aquela tradicional de frequentar a academia e levantar peso. Qualquer atividade que movimente o corpo já faz toda a diferença! Aquela caminhadinha no quarteirão da sua casa, ou no bloco do seu condomínio, mesmo que por 15 minutinhos, já conta.

A atenção ao sono também é parte importante na manutenção da boa saúde mental. Como está seu sono? Você dorme uma noite inteira ou acorda de madrugada? Quando acorda, acorda descansado ou parece que nem dormiu? Tem uma rotina de sono ou dorme quando dá ou tem sono? Seu sono é profundo ou você acorda com qualquer barulhinho?

Quais os principais desafios em manter a saúde mental?
Manter a rotina de cuidados, mesmo quando tudo parece ter saído do controle. Aquelas ocasiões em que a gente está cheio de prazos, compromissos e desculpas para o descuido pessoal: “estou na correria, não consigo fazer exercício”, “estou sem tempo, por isso estou comendo fora que é mais prático”.

O que muita gente esquece é que nosso cérebro é um formidável seguidor de fórmulas repetidas. Quanto mais você faz, mais ele repete. Então, se você é daqueles que acorda, pega o celular antes de levantar e só depois segue o dia, sinto informar que essa tem sido sua rotina (destrutiva?) e que, provavelmente, você sente os efeitos dela nos níveis de ansiedade aumentados, na falta de memória e dificuldade de concentração.

A boa notícia é que você pode substituir os hábitos que pouco contribuem para a sua saúde, como: parar de fumar, por algo que faça você se sentir mais ativo.

Quem define o que é bom pra você é você mesmo. Não precisa acordar às 5h da manhã para correr; parar de beber sua cervejinha ou de comer coisas gostosas. A palavra aqui é equilíbrio. Se você não é de acordar cedo e pode dormir até mais tarde, faça isso!

Contudo, se você acordar às 10h, ao invés das 11h, e caminhar na sua rua, já estará sendo ativo na sua saúde física e mental, e nem fez mudanças radicais na rotina.

Há sinais que indiquem que a saúde mental da pessoa está com prometida?
A percepção de maior irritabilidade, menos paciência nas atividades corriqueiras, ganho ou perda de peso sem explicação clara, problemas com o sono, dores musculares e de cabeça, dificuldade com atividades comuns, problemas em se relacionar com colegas, quedas de cabelo e alergias frequentes.

Quais os principais problemas de saúde que interferem na saúde mental das pessoas?
Quase qualquer interferência na vida normal das pessoas pode ser um possível obstáculo pra uma saúde mental plena. Acredito que os sintomas mais comuns sejam: ansiedade, depressão, dependência de álcool, tabaco e outras drogas e o estresse.

A ansiedade é a antecipação de uma preocupação futura, sendo uma reação normal ao estresse. Contudo, os transtornos diferem dos sentimentos normais de nervosismo e envolvem medo excessivo, que podem afetar o desempenho profissional e as relações pessoais, evoluindo para quadros de depressão.

A depressão é um distúrbio mental caracterizado pela sensação de tristeza persistente ou perda de interesse em atividades, prejudicando significativamente o dia a dia. Suas causas podem ser diversas, inclusive, pelo aumento da produção de cortisol ou baixa produção de neurotransmissores e outros hormônios.

A dependência de álcool, tabaco e outras drogas é reconhecida como uma doença de caráter progressivo, que acomete, sobretudo, o físico e o psíquico do dependente, de forma consubstancial. Pacientes dependentes químicos possuem algumas características comuns, como a hipersensibilidade às suas emoções, nos quais utilizam as drogas como meio de anestesiá-las. Através do tratamento adequado, o individuo aprende a lidar com diversas dificuldades emocionais sem ter que consumir drogas.

O estresse atinge cerca de 70% da população mundial. Ele apresenta sintomas físicos, emocionais, comportamentais e defensivos, com falta de atenção, problemas de memória, pensamento lento e isolamento social; e pode ter diferentes causas, sendo as mais comuns: problemas com dinheiro, relacionamentos e excesso de cobrança.

É importante lembrar que o estresse, quando não tratado, pode se transformar na síndrome de burnout, que é decorrente de um período prolongado de estresse profissional.

O burnout tem três dimensões: a exaustão emocional, a despersonalização e a diminuição da produtividade.

E isso acontece quando a pessoa percebe que não tem mais condições de gastar energia para o trabalho. Gera a queda da produtividade, além de faltas constantes ao trabalho, baixa autoestima e sentimento de incompetência.

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